CONCEITO
É uma terapia que utiliza o frio nas mais diversas
formas (líquida,sólida,gasosa), com o objetivo terapêutico de retirar calor do
corpo. A retirada de calor do corpo tem por objetivo induzir os tecidos a um
estado de hipotermia favorecendo uma
redução da taxa metabólica local.
REGULAÇÃO
DA TEMPERATURA CORPORAL FRENTE AO AMBIENTE FRIO
Fisiologia da Temperatura Corporal Frente ao Ambiente Frio
Quando
um indivíduo está exposto a condições ambientais de baixa temperatura, a perda
de calor por radiação pela superfície corporal, exagera-se de acordo com o
gradiente térmico gerado entre a temperatura da pele e a temperatura do
ambiente; quanto maior for este gradiente térmico, maior também será a
magnitude da termólise por radiação.
Por
outro lado, se além da baixa temperatura houver uma corrente de ar (vento, por
exemplo), a perda de calor por convecção se acrescenta à radiação; deste modo,
a termólise se acentua. A perda de calor através da superfície cutânea
determina esfriamento da pele, fator suficiente para estimular os receptores do
frio, ou de Krause, localizados nas camadas subdérmicas e sensíveis às
diminuições de temperatura local.
De
acordo com a intensidade do estímulo frio há uma relação direta e proporcional
com a freqüência de impulsos gerados e transmitidos pelas vias aferentes
sensitivas, de modo que o sistema nervoso central recebe um número maior de
impulsos quanto maior for a intensidade do estímulo aplicado na pele.
Os
impulsos aferentes chegam até os núcleos ventro-póstero-laterais do tálamo
(tálamo ventrolateral), ao nível de cujas sinapses gera-se a sensação de frio,
que pode ser epicrítica, quando, através das vias tálamo-corticais, cheguem
impulsos ao córtex somestésico correspondente, fenômeno através do qual a
sensação térmica torna-se precisa, definida e discriminativa.
Regulação Hipotalâmica De Temperatura
O
centro responsável por controlar a temperatura corporal está localizado na
região pré-óptica do hipotálamo anterior como mostra a figura1, formada
por grupo de neurônios que responde diretamente à temperatura. O aquecimento
dessa área produz vasodilatação em praticamente todos os vasos cutâneos do
corpo desencadeando também a sudorese.
O
resfriamento do centro causa vasoconstrição e parada da sudorese. Além disso,
os receptores de temperatura da pele participam do controle do fluxo sanguíneo
cutâneo por produzirem sinais nervosos reflexos para os vasos sanguíneos
cutâneos por meio da medula espinhal ou passando pelo hipotálamo, antes de voltarem
para os vasos sanguíneos.
Quando
a temperatura do sangue aumenta, a freqüência da descarga dessas células
aumenta na mesma proporção, e quando a temperatura diminui a resposta dessas
células é a diminuição da frequência das descargas.
A
partir dessa área pré-óptica temperatura-sensível, sinais são irradiados para
várias outras regiões do hipotálamo, para controlar a produção ou a perda de
calor. Em geral, o hipotálamo pode ser dividido em duas regiões de controle de
calor: um centro de perda de calor, de situação anterior, e que, quando
estimulada provoca a redução do calor corporal, e um centro de produção de
calor, de situação posterior e que, quando estimulado, aumenta o calor
corporal.
Figura 1:
Localização dos principais núcleos hipotalâmicos.
1- Núcleo
paraventricular
8- Corpo caloso
2- Núcleo pré-óptico
11- Coluna do Fórmix
3- Núcleo
ventromedial
12- Quiasma
óptico
4- Núcleo
supra-óptico
15- Tálamo
5- Núcleo
posterior
18- Corpo pineal
6- Núcleo
dorsomedial
19- Tecto do Mesencéfalo
7- Corpo mamilar
20- Lâmina terminal
Todo e qualquer uso de
gelo ou aplicação de frio que resulta em remoção do calor corporal, diminuindo
assim, a temperatura dos tecidos e utilizado para fins terapêuticos é
denominado Crioterapia.
Modos de Aplicação
A crioterapia pode ser aplicada de acordo com os seguintes métodos: bolsas de
gelo; compressas de gelo; compressas de cubos de gelo artificial; compressas
frias químicas; imersão em gelo; massagem com gelo; aparelhos de frio; sprays
refrigerantes; bandagens com sprays refrigerantes.
Efeitos Inflamatórios
A crioterapia reduz o processo
inflamatório agudo principalmente nos traumatismo agudo, sendo que a aplicação
da crioterapia sobre a área lesada tem a ação anti-inflamatória por diminuir o
metabolismo além de se opor a vasodilatação inflamatória.
Efeitos Circulatórios
A crioterapia induz espasmos vasculares, que
diminuem o calibre das arteríolas e aumentam a adesividade das células
endoteliais diminuindo assim o fluxo sanguíneo adjacente e a permeabilidade
vascular que fazem parte dos efeitos essenciais para instalação do processo
inflamatório.
A
mudança da temperatura dos tecidos causa diminuição do metabolismo, das ações
químicas das células e consequentemente da quantidade de oxigênio e de
nutrientes. O decréscimo do fluxo através da lesão dos vasos limita o
edema; há menor liberação de histamina e interrupção no processo de evolução da
rotura do capilar, o que normalmente ocorreria após a lesão. Há melhor drenagem
linfática devida menor pressão no líquido extravascular.
Redução de Edema
A permeabilidade vascular é significantemente reduzida com a aplicação de frio,
desta forma limitando a migração leucocitária. Sem a efetiva ação leucocitária
no tecido lesado, o processo digestivo de detritos celulares e de outros
materiais é diminuído. Desta maneira ocorre a contenção do processo de
liberação de proteínas livres, reduzindo assim os efeitos das mesmas sobre
a pressão oncótica do tecido, modulando a formação de edema.
Diminuição do Metabolismo Tecidual
Um dos efeitos mais importantes do frio sobre o
organismo é a diminuição metabólica tecidual, ocasionado pelo menor consumo de
oxigênio por parte dos tecidos lesados. A crioterapia nesses casos visa
diminuição metabólica, objetivando que os tecidos lesados que estão submetidos
a irrigação sanguínea precária, possam diminuir seu gasto metabólico e possa
sobreviver por mais tempo.
A
hipotermia reduz a necessidade de energia celular, assim o consumo de oxigênio
pelo tecido, desta forma quanto mais baixa a temperatura tecidual, mais
profunda será a depressão tecidual. A relação temperatura e captação de
oxigênio é inversamente proporcional, sendo que quanto menor a temperatura
tecidual, maior a captação de oxigênio pela célula.
O uso da crioterapia nas primeiras 24 a 48 horas após o trauma leva a
uma diminuição no índice metabólico e consequentemente a uma diminuição da
lesão hipóxica secundária. O CO² é um dos mais importantes metabólicos do
organismo, com o uso da crioterapia, este sofrerá alterações que acarretarão na
diminuição da sua concentração, levando a um aumento do tônus vascular e
consequentemente a uma diminuição do seu diâmetro, ou seja, uma vasoconstrição.
Decréscimo da Dor e Espasmo Muscular
O resfriamento
faz com que ocorra um aumento na duração do potencial de ação dos nervos
sensoriais, e consequentemente um aumento do período refratário, acarretando
uma diminuição na quantidade de fibras que irão despolizar no mesmo período de
tempo.
Conclui-se
então, que, ocorre uma diminuição na frequência de transmissão do impulso e uma
diminuição da sensibilidade dolorosa. A aplicação do gelo faz com que aumente o
limiar de excitação das células nervosas em função do tempo de aplicação, ou seja,
quanto maior o tempo, menor a transmissão dos impulsos relacionados à
temperatura o que pode gerar analgesia ou diminuição da dor.
Sendo assim, o
frio age com afeito analgésico por atuar diretamente nas terminações nervosas,
diminuindo a velocidade condutora das fibras nervosas e por estimulação
competitiva nos mecanismos de comporta. A hipotermia nos músculos, reduz a
velocidade de disparo das fibras nervosas do tipo Ia do fuso muscular favorecendo a
redução espasmódica, que ocorre na relação de 1.86 m/s por grau Celsius.
EFEITOS
FISIOLÓGICOS DA CRIOTERAPIA
Foi
encontrado na literatura, diversos efeitos fisiológicos ocasionados pelo uso da
crioterapia e são eles:
- Anestesia
- Redução
da dor
- Redução
do espasmo muscular
- Estimula
o relaxamento
- Permite
mobilização precoce
- Melhora
a amplitude de movimento (ADM)
- Estimula
a rigidez articular
- Redução
do metabolismo
- Redução
da inflamação
- Estimula
a inflamação
- Redução
da circulação
- Estimula
a circulação
- Redução
do edema
- Quebra
do ciclo dor-espasmo-dor
Conceito
de Inflamação
A
inflamação é a reação do tecido vivo vascularizado à lesão local. É causada por
infecções bacterianas, agentes físicos, substâncias químicas, tecido necrótico
e por reações imunológicas. O papel da inflamação é conter e isolar a lesão,
destruir os microrganismos invasores, inativar as toxinas e atingir a cura e o
reparo. Entretanto, a inflamação e o reparo são potencialmente nocivos,
provocando reações de hipersensibilidade potencialmente fatais, lesão
progressiva do órgão e fibrose.
Sinais Clássicos Da Inflamação
Aguda
· Calor
· Vermelhidão
(rubor)
· Edema
(tumor)
· Dor
· Perda
da função
Efeitos da Inflamação
· Vasoconstrição
inicial transitória das arteríolas;
· A
seguir, vasodilatação, provocando aumento de fluxo responsável pelo calor e
pelo rubor;
· Menor
velocidade de circulação, eventualmente devida a permeabilidade vascular
aumentada é a causa do edema;
· Com
a menor velocidade, surge marginação dos leucócitos, precedendo os eventos
celulares.
Inflamação Crônica
Inflamação crônica
é a inflamação de duração prolongada, na qual a inflamação ativa, a destruição
tecidual e as tentativas de cicatrização ocorrem de forma simultânea.
Essas
inflamações podem surgir de várias maneiras tais como:
· Pode
ocorrer após inflamação aguda, devido à persistência do estímulo desencadeador
ou devido a alguma interferência no processo normal de cicatrização;
· Pode
ser resultado de surtos repetidos de inflamação aguda;
Mais amiúde começa de forma
insidiosa como uma resposta indolente de baixa intensidade que não segue a
inflamação aguda clássica, em uma das seguintes situações:
- Infecção
persistente por micróbios intracelulares que são de baixa toxicidade, mas que
evocam uma reação imunológica;
- Exposição
prolongada a substâncias não degradáveis, mas potencialmente tóxicas;
- Reações
imunes, em particular aquelas perpetuadas contra os próprios tecidos do
indivíduo;
Os
achados histológicos da inflamação crônica incluem:
· Infiltração
por células mononucleares, principalmente macrófagos, linfócitos e
plasmócitos;
· Destruição
tecidual;
· Reposição
do tecido conjuntivo da lesão por um processo envolvendo proliferação dos vasos
sanguíneos e fibrose.
Estudos da Crioterapia na
Inflamação
Em
um estudo, Ducan e Brooks utilizaram injeções subcutâneas, nas costas de
coelhos, de cultura de stafilococus aureus , que são cocos gram-positivos
que formam grumos semelhantes a cachos e que provocam lesões cutâneas. Quando
essas lesões estão localizadas na pele, ossos ou valvas cardíacas provocam
inflamação piogênica.
- Algumas
feridas não foram tratadas
- Outras
feridas foram tratadas com água a uma temperatura de 40Cº.
- Outras
feridas foram tratadas com água a uma temperatura de 10Cº
Os
resultados obtidos após 24h, a resposta inflamatória era maior nas feridas
tratadas com água a 40ºC e as feridas tratadas com água a 10ºC as respostas
inflamatórias quase não existiam.
Após 24h de
interrupção do tratamento as lesões tratadas pela crioterapia pareciam com as
não tratadas nas primeiras 24h da lesão.
Com esses dados os autores chegaram
a uma conclusão que a crioterapia não alterou a resposta inflamatória, e sim, a
adiou.
Indicações
- Redução da dor – analgesia;
- Contenção do processo inflamatório e do edema;
- Restrição da área do trauma;
- Redução do espasmo muscular;
- Diminuição do metabolismo celular;
Principais indicações nas lesões
ortopédicas:
- Lesões musculares;
- Entorses articulares;
- Traumas agudos;
- Luxações;
Modalidades e Aplicações:
Existem diversas
modalidades terapêuticas na crioterapia como: bolsas frias de gel de sílica ou
ativadas quimicamente; pacotes com gelo; banho de imersão; massagem com gelo;
Polar Care Cooler; Cryo Cuff e sprays frios. Iremos explicar as mais usadas,
mas sua aplicação vai depender da área lesionada e da parte do corpo a ser
resfriada. Quanto maior a espessura do tecido adiposo maior tempo para resfriar
e nas áreas com a pele mais fina menor tempo.
Pacote
de gelo:
A principal e mais
barata modalidade da crioterapia é a bolsa ou saquinho de gelo. Simples de
fazer, utilizando cubos de gelos, de preferência picados dentro de bolsas
apropriadas ou somente sacolas plásticas.
Aplicação: recomendada
para regiões pequenas do corpo; se forem utilizadas em articulações a dica é
tirar o ar do saquinho, para ficar mais moldável. Utilizada na fase aguda da
lesão, 24 a 48 horas após a lesão (começo do processo inflamatório) e em lesão
como entorses, distensões musculares e traumas agudos.
Tempo: 15 a 20
minutos de aplicação contínua.
No processo inflamatório existe um
protocolo para aperfeiçoar a aplicação do gelo, principalmente na diminuição do
edema, que é a elevação com compressão da região lesionada. Normalmente
recomendamos ficar deitado na hora da aplicação e colocar o membro lesionado
para cima, pelo menos 20cm acima do coração, com a compressão do gelo,
utilizando, por exemplo, uma faixa ou atadura.
Cuidado: Esse tempo de
15 a 20 min é o período mínimo necessário para ocorrer o resfriamento e
proporcionar efeitos terapêuticos. Deixar passar esse tempo, ou seja,
mais que 20, 25 minutos levará há efeitos prejudiciais no tecido, como
queimaduras ou dores exacerbadas.
Banho
de Imersão:
A imersão utiliza o gelo com água num
recipiente.
Aplicação: Utilizada
normalmente para extremidade do corpo onde o pacote de gelo não se molda
adequadamente ou para ter um resfriamento de grandes regiões do corpo. Na
imersão não conseguiremos realizar a elevação, mas teremos pressão da água
proporcionando a compressão na região da lesão.
Tempo: 10 a 15
minutos de aplicação contínua.
Cuidado: Por estar
numa temperatura mais baixa o resfriamento é mais rápido, por isso o tempo de
aplicação é mais curto.
Spray:
Existem diversos
Sprays no mercado com uma grande variedade de componentes químicos como:
cloreto de etil, fluorometano, álcool isopropílico, mentol, cânfora etc.
Aplicação: para traumas ou lesões
superficiais. Atua principalmente no alívio da dor.
- Vaporize em uma toalha por 2 a 3 segundos e aplique com leve
compressão a toalha no local lesionado;
- Se for aplicar direto na pele, vaporize a pelo menos 30 cm de distância da
pele por 2 a 3 segundos.
Cuidado: Leia sempre
as recomendações do fabricante antes de aplicar o Spray. Por ter um
resfriamento muito rápido o risco de queimadura é mais alto, nunca aplique nos
olhos e tenha muito cuidado com aplicações em crianças.
• Contra-indicações
Iremos citar algumas
contra-indicações e cuidados na hora de aplicação do gelo. Vale sempre
ressaltar que qualquer doença ou lesão a ser tratada com a crioterapia deve
antes ser indicada por um profissional habilitado como o Fisioterapeuta.
- Hipersensibilidade ao frio;
- Distúrbios vasoespásticos:
• Fenômeno de Reynaud
• Distrofia Simpático-Reflexa;
• Gota;
Cuidados:
- Doenças periféricas
vasculares e neurológicas;
- Crianças;
- Regiões onde a pele é mais sensível ou fina;
- Regiões onde passam vasos sanguíneos e nervos como
atrás do joelho (fossa poplítea);
Bom estudo!!!