INTRODUÇÃO
A
mobilização precoce é uma terapia que traz benefícios físicos, psicológicos e
evita os riscos da hospitalização prolongada, reduzindo a incidência de
complicações pulmonares, acelerando a recuperação e diminuindo a duração da
favoráveis para pacientes críticos.
Antigamente acreditavam que o repouso no leito
era o melhor local para um doente crítico ficar, porém, atualmente esse
conceito foi extinto, sabe-se que, a
imobilidade durante muito tempo pode influenciar doenças críticas causando
diversas complicações como úlceras de pressão, perda de força muscular,
tromboembolismo, osteoporose , pneumonia, atelectasias, alteração das fibras
musculares de contração lenta para contração rápida, atrofia e fraqueza
muscular e esquelética, e afetar os barorreceptores que contribuem para a
hipotensão postural e taquicardia, que acarretam várias alterações sistêmicas .
Vários estudos abordam sobre a aplicação da fisioterapia motora
precoce em pacientes com diagnósticos variados, mostrando que estes indivíduos
saíram mais cedo da cama, deambularam em menos dias e tiveram um menor tempo
de permanência na unidade de terapia intensiva e no hospital. Além disso, os
pacientes que receberam fisioterapia motora precoce apresentaram um menor tempo
de ventilação.
É de
grande valia exercícios que treinem a funcionalidade do paciente, como condutas
podemos instituir exercício ativo ou ativo assistido de ponte, exercícios para
fortalecimento de abdominais anteriores e laterais, treino de sentar e levantar
a depender da clínica, e durante o atendimento impulsionar ao paciente a sua
independência em relação as suas atividades pessoais.
Portanto o exercício terapêutico é considerado um elemento central na maioria
dos planos de assistência da fisioterapia, com a finalidade de aprimorar a
funcionalidade física e reduzir incapacidades .
A movimentação permite que o
fisioterapeuta, como nos programas de reabilitação descritos anteriormente,
promova a mobilização controlada de cada articulação, o que torna possível a
adequação de sua intensidade conforme o limiar da dor do paciente.
Assim, em virtude do
desenvolvimento da fraqueza neuromuscular em pacientes críticos e suas
repercussões na qualidade de vida durante e após a sua permanência na UTI, as
ações de cuidados intensivos são direcionadas para uma reorientação no manejo
desses pacientes, priorizando a redução da sedação profunda,
mobilização precoce e manutenção da capacidade funcional.
AVALIAÇÃO
DA FORÇA MUSCULAR NA MOBILIZAÇÃO PRECOCE
Pacientes na UTI estão expostos à imobilização
prolongada, o que gera perda de massa muscular.
Redução de tecido contrátil, por sua vez, tem forte associação com o
comprometimento da capacidade de produção de força. O sistema
musculoesquelético é projetado para se manter em movimento, sendo que são
necessários 7 dias de repouso para reduzir a força muscular em 30%, levando à
perda adicional de 20% da força restante a cada semana.
Em média, 46% dos pacientes internados na UTI, que foram
expostos a fatores de risco para fraqueza muscular, desenvolvem tal
complicação. Nos casos de sepse, essa taxa de incidência pode variar de 70% a
100%.
Diversas
intervenções com mobilização progressiva tem sido recomendadas como abordagem
para minimizar a fraqueza muscular após um quadro crítico. A mobilização é uma
forma de preservar a força e a massa muscular, melhorando o fluxo sanguíneo,
estimulando a produção de citocinas anti-inflamatórias e aumentando a atividade
da insulina e captação de glicose no músculo.
Um
dos recursos que vem apresentando grande utilidade em hospitais é o
cicloergômetro, que é um aparelho
estacionário que promove rotações cíclicas em membros inferiores e/ou
superiores e pode ser utilizado para realizar exercícios passivos , ativos e
resistidos. Esse recurso mostra-se vantajoso para pacientes sedados,
imobilizados, com doença crítica severa no qual mesmo o movimento passivo pode
desempenhar um papel na preservação da musculatura. Apesar dos seus benefícios,
a avaliação rigorosa e o usos do cicloergômetro como terapia de reabilitação
para pacientes internados têm sido limitados.
É
também utilizado um escore para a avaliação da força muscular periférica,
consiste em seis movimentos avaliados bilateralmente, com grau de força
muscular para cada movimento, entre 0 (paralisia total) e 5(força muscular
normal), sendo que a pontuação total varia de 0 a 60 (Força muscular normal).
Para os pacientes cooperativos, o escore demonstra-se bastante reprodutível e
com alto valor preditivo em vários estudos sobre disfunção neuromuscular no
paciente crítico.
É
o mais conhecido e utilizado sistema de classificação de força muscular em todo
o mundo, contudo a dinamometria também vem ganhando espaço no ambiente da
terapia intensiva com o objetivo de avaliar a força de contração voluntária
máxima à beira do leito.
O
reconhecimento e o diagnóstico da disfunção neuromuscular adquirida na UTI
podem ser difíceis em pacientes sob ventilação mecânica quando estes estão
sedados e inábeis para cooperar com os testes de avaliação. A fraqueza muscular
apresenta-se de forma difusa e simétrica, acometendo a musculatura esquelética periférica e respiratória, com
variável envolvimento dos reflexos tendinosos profundos e da inervação
sensorial. No entanto, distinguir fraqueza muscular verdadeira de falta de
motivação ou incapacidade de completar uma tarefa é um desafio, e o uso de
testes de força muscular nos primeiros estágios da doença crítica torna-se
limitado. Métodos volitivos para
mensuração da força muscular, enquanto clinicamente atraentes, estão restritos
a pacientes alertas, acordados e com cognitivo preservado para serem capazes de
produzir esforços máximos .
Mais
recentemente, o ultrassom vem demonstrando grande utilidade clínica para
avaliar a mudança na arquitetura dos músculos esqueléticos periféricos durante
a doença crítica, no entanto a técnica ainda necessita de padronização de
protocolos no ambiente da terapia intensiva. A atenção recente tem indicio
sobre a utilidade do ultrassom para acompanhar a trajetória de perda de massa
muscular em pacientes criticamente enfermos. A estratificação de risco dos
pacientes com perda de massa muscular periférica é vital para otimizar o manejo
clínico, incluindo a implementação da cinesioterapia, reabilitação e outras
intervenções terapêuticas.
Os
princípios da técnica do ultrassom neuromuscular foram descritos anteriormente,
com diferenças ultrassonográficas evidentes entre músculo esquelético saudável
e doente e um número de características da arquitetura do músculo esquelético
periférico incluindo a área de secção transversa, o ângulo de penação, a
espessura muscular e a ecogenicidade. Além disso, o ultrassom tem vantagens
pragmáticas e clínicas: é amplamente disponível nas UTIs, portátil, simples e
rápido de executar. Também é independente de esforço, livre de radiação
ionizante, pode ser realizado à beira do leito e, com treinamento, pode ser
implementado por profissionais não especializados.
BENEFÍCIOS:
A realização de
mobilização precoce em pacientes graves na UTI resulta em:
1. melhora da força
muscular.
2. melhora a
funcionalidade.
3. melhora a qualidade
de vida.
4. reduz dias em
delirium.
5. reduz tempo de
internação em UTI e hospitalar.
6. reduz tempo de
ventilação mecânica.
7. reduz custos
hospitalares.
Estratégia
O protocolo de Mobilização Precoce em pacientes
críticos sob assistência ventilaria mecânica incluem alongamento passivo;
mobilização passiva; posicionamento articular; exercício ativo-assistido;
transferência de deitado para sentado; exercício ativo-assistido;
cicloergometria para membros inferiores; transferência de sentado para cadeira;
postura ortostática; e exercício contra-resistido. Como resultado verificaram
ganho na força muscular apenas no grupo da mobilização, o que permitiu afirmar
que quando aplicada de forma precoce e sistematizada a mobilização na UTI é
viável e segura, já que reduz os efeitos da imobilidade, auxilia a manutenção
da capacidade funcional e inibe a perda das fibras musculares.
Foi estabelecida uma hierarquia de práticas de
mobilização na UTI, respeitando a intensidade do exercício, a saber: mudança de
decúbitos e posicionamento funcional, mobilização passiva, exercícios
ativo-assistidos e ativos, uso de cicloergômetro na cama; sentar na borda da
cama; ortostatismo, caminhada estática, transferência da cama para poltrona,
exercícios na poltrona e caminhada. No que diz respeito ao tipo de atividade,
encontraram na literatura atividades que variavam de movimentos passivos,
movimentos ativo-assitidos e ativo-livres, atividade de equilíbrio,
transferência de deitado para sentado, sentar na beira do leito, inclinação com
e sem apoio, ficar em pé, transferência para cadeira e deambulação.
A
quantidade de mobilizações realizadas ficou entre 69 a 1449, evidenciando a
diversidade e complexidade desta proposta de tratamento. No que tange aos
critérios para mobilização, observaram os antecedentes médicos, a reserva
cardiovascular e respiratória, os fatores hematológicos, a temperatura
corporal, o peso, a aparência do paciente, o nível de consciência, a resposta
do paciente ao estímulo verbal, a FiO2 menor ou igual a 0,6 e PEEP menor ou
igual a 10 cm H2O, a ausência de hipotensão ortostática e uso excessivo de
catecolaminas, a SpP2 maior que 88%, a frequência respiratória entre 5 e 40 incursões
por minuto (ipm), a frequência cardíaca entre 40 e 130 batimentos por minuto
(bpm), e a PAS menor que 200 mmHg, além de estudos que destacaram a avaliação
médica e a avaliação da capacidade motora.
Quanto aos critérios e mecanismos de
segurança da mobilização precoce, França et. al. (2012) recomendam uma monitorização
permanente do paciente crítico, avaliando as variáveis cardiovasculares
(frequência cardíaca e pressão arterial), respiratórias (padrão muscular
ventilatório do paciente e sincronia do paciente com o ventilador quando em VM,
saturação periférica de oxigênio e freqüência respiratória) e o nível de
consciência. Dentre as intervenções necessárias na Unidade de Cuidados
Intensivos (UCI) destaca-se o posicionamento, mobilizações passivas, ativas e
resistidas, rolar no leito, terapia cinética, posição ortostática e treino de
marcha. Atenta-se ainda para a avaliação das condições de segurança, a saber: a
reserva cardiovascular e respiratória, com monitorização de frequência
cardíaca, pressão arterial, PaO2/FiO2, SpO2 e PaCO2.
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