Reabilitação
pulmonar é uma intervenção multiprofissional, integral e baseada em evidências
para pacientes com doenças respiratórias crônicas que sejam sintomáticos e
frequentemente tenham diminuição das atividades da vida diária.
A
reabilitação pulmonar, integrada ao tratamento individualizado do paciente, é
delineada para reduzir sintomas, otimizar a capacidade funcional, aumentar a
participação e reduzir os custos por meio da estabilização ou reversão das
manifestações sistêmicas da doença.
Esta definição foca
três pontos importantes:
Multiprofissional
: Reabilitação pulmonar necessariamente utiliza a experiência e capacidade de
vários profissionais
Individual:
O programa deve avaliar as necessidades individuais do paciente e delinear um
programa para ele, especificamente
Atenção
à função física e social : O programa deve focar os problemas
psicológicos, emocionais e sociais assim como a limitação física e ajudar a
otimizar a terapia médica para melhorar a função pulmonar e a tolerância ao
exercício.
COMPONENTES
DO PROGRAMA
A
composição do grupo profissional para gerir e executar um programa de
reabilitação pulmonar deve variar segundo sua capacidade de manutenção
financeira. Um grupo ideal deve incluir Médico, Pneumologista, Fisioterapeuta,
Psicólogo, Enfermeiro, Nutricionista, Assistente social e Terapeuta
ocupacional.
A
composição da equipe multidisciplinar do Programa de Reabilitação Pulmonar
varia de acordo com a população de pacientes, o orçamento do programa, a
disponibilidade de recursos e profissionais.
No
entanto, programas de reabilitação podem apresentar resultados adequados mesmo
com um número menor de profissionais, desde que estes sejam capazes de
substituir as especialidades que estejam faltando. Não há um número mínimo para
a constituição da equipe, mas no caso de dificuldade de se montar a equipe
ideal, ela poderia ter médico, fisioterapeuta e psicólogo.
INDICAÇÕES
Tem
indicação de fazer reabilitação pulmonar todos os pacientes que têm qualquer
limitação física por uma doença respiratória. Assim, pacientes em qualquer
estado da DPOC podem beneficiar-se em algum grau de reabilitação pulmonar e
deveriam ser encaminhados ao programa. O
habitual é o paciente ser encaminhado em uma fase avançada da doença.
Os
grupos especializados em reabilitação têm feito esforços para mudar esta
atitude dos médicos e de outros profissionais da área de saúde respiratória,
incentivando-os a encaminharem os pacientes em fases mais precoces da doença.
Assim,
no nosso ponto de vista, a reabilitação está indicada tão logo o paciente, para
que fique consciente de sua limitação física, independente do estado da doença.
Costumamos reforçar a ideia da prescrição precoce de exercício para o paciente
com doença respiratória crônica lembrando o fato de que mesmo as pessoas
saudáveis devem fazer exercícios.
BENEFÍCIOS
A reabilitação pulmonar está indicada a todos os
pacientes que apresentam dispnéia, reduzida tolerância ao exercício e restrição
nas suas atividades, apesar de já estarem no máximo da terapêutica medicamentosa
pertinente. Ganhos em programa de reabilitação ocorrem independente da idade,
gênero ou função pulmonar.
1. diminuir e
controlar os sintomas respiratórios(sensação de falta de ar);
2. aumentar a
capacidade física;
3. melhorar a
qualidade de vida;
4. reduzir o
impacto psicológico da limitação física;
5. diminuir o
número de exacerbações relacionadas à doença;
6. prolongar a
vida;
PATOLOGIAS
DPOC
O paciente com DPOC apresenta limitação
ventilatória, ao contrário dos cardiopatas que apresentam limitação cardíaca. O
treinamento adequado é com uma carga que mantenha o indivíduo próximo do seu
limiar anaeróbio.
Pela limitação ventilatória que os pacientes com
DPOC apresentam, o limiar anaeróbio é mais próximo do exercício máximo, ao
contrário dos indivíduos normais em que o limiar anaeróbio é em torno de 50-60%
do seu máximo. Daí a indicação de uma carga alta para o treinamento dos
pacientes com DPOC.
ASMA
A asma é uma doença inflamatória crônica das vias
aéreas, caracterizada por episódios de broncoespasmo e hiperresponsividade das
vias aéreas.
Em muitos asmáticos o exercício pode provocar
broncoespasmo, portanto os programas de reabilitação pulmonar devem incorporar
estratégias para tratar e evitar a broncoconstricção induzida por exercício.
Os objetivos da reabilitação pulmonar no manejo da
asma incluem a minimização dos sintomas e das exacerbações e a preservação do
condicionamento físico. Esses objetivos podem ser alcançados por meio de
atividade física, exercícios e de educação do paciente e de sua família.
FIBROSE
CÍSTICA
A fibrose cística (FC) é uma doença hereditária e
progressiva associada com a deterioração da função pulmonar e disfunção pancreática
. As consequências dessa doença incluem infecções reincidentes do trato
respiratório, com bronquiectasias difusas; obstrução grave ao fluxo de ar e
hiperinsuflação .
A FC conduz à grande morbidade, com sintomas de
tosse, produção de escarro, dispnéia, intolerância a exercícios, alterações
funcionais e alteração da qualidade de vida .
O treinamento com exercícios, para pacientes com a
doença, induz a melhora do condicionamento aeróbio e resistência, aumento da
força, diminuição da dispnéia para esforços submáximos e melhora da qualidade
de vida .
DOENÇA
INTERSTICIAL
As doenças pulmonares intersticiais crônicas (DPI)
são um grupo heterogêneo de doenças, caracterizado por graus variáveis de
inflamação e/ou fibrose no interstício e/ou compartimentos alveolares do
parênquima pulmonar. Como exemplos de doenças intersticiais temos a fibrose
pulmonar idiopática, sarcoidose, silicose, entre outras.
Os sintomas comuns à maioria das formas de DPI
incluem dispneia gradual progressiva aos
esforços e tosse seca, com intolerância progressiva a exercícios.
O treinamento supervisionado de exercícios pode ser
útil para manter ou melhorar o condicionamento e possivelmente auxiliar na
recuperação de pacientes com miopatia induzida por corticoides.
DOENÇAS
NEUROMUSCULARES
Estes
pacientes podem necessitar de equipamentos de assistência ventilatória.
HIPERTENSÃO
PULMONAR
A prescrição de exercício não é mais
contra-indicada, como no passado recente. Atividades que elevam muito a pressão
intratorácica devem ser evitadas, pois podem levar a síncopes.
PROBLEMAS
CARDÍACOS/ORTOPÉDICOS VS REABILITAÇÃO PULMONAR
Pacientes com problemas locomotores, distúrbios
cognitivos significativos ou doença cardíaca (angina instável e/ou estenose
aórtica) e que são incapazes de realizar exercícios com segurança podem
participar das outras atividades do programa, como intervenção educativa,
orientação nutricional e apoio psicossocial. No caso de pacientes com doenças
cardíacas, é recomendável ter a assessoria de um cardiologista, o qual poderá emitir
um parecer sobre as limitações específicas do paciente, para que o programa
possa ser adequado a ele.
TABAGISTAS
vs REABILITAÇÃO PULMONAR
Com relação à pacientes tabagistas o programa de
reabilitação pulmonar, não há evidências que o ganho físico dos fumantes seja
diferente dos não fumantes, havendo, ao contrário, dados que indicam que
fumantes ativos têm desempenho semelhante aos de ex-fumantes. Os grupos que se
opõem à inclusão de fumantes argumentam que o deixar de fumar faz parte da
terapia global do paciente e que reflete o seu interesse no tratamento e no
programa.
OXIGÊNIO
NA REABILITAÇÃO PULMONAR
Suplementação de oxigênio durante reabilitação
pulmonar, independente se dessaturação ocorre ou não durante o exercício,
frequentemente permite um treinamento com maior intensidade e reduz os
sintomas. Contudo, ainda não existem evidências que esta suplementação de
oxigênio traz melhora nos desfechos clínicos.
Em termos práticos, oxigênio deve ser suplementado a
todos os pacientes com um fluxo que permita uma saturação acima de 92%.
EQUIPAMENTOS
Em uma relação
mínima de equipamentos, deve constar fonte portátil de oxigênio, oxímetro de
pulso, cronômetros, jogos de halteres, além de uma sala que comporte atividades
físicas em grupo.
As atividades
físicas podem ser realizadas em esteiras e/ou bicicletas ergométricas, ou
cicloergômetros para membros superiores. Ainda deveria haver no centro de
reabilitação monitores cardíacos (para uso exclusivo em testes máximos e não
para treinamento), espirômetro e aparelhos para a realização de fisioterapia.
É necessário um
espaço que permita a realização de teste da caminhada. É recomendável que
equipamento para ressuscitação cardiorrespiratória esteja disponível e que a
equipe esteja treinada para os procedimentos padrão de manutenção avançada de
vida, apesar da raridade destes eventos em pacientes em programas de
reabilitação pulmonar.
AVALIAÇÃO
FISIOTERAPÊUTICA
A avaliação
inicial de um paciente deve compreender testes físicos e a aplicação de
questionários referentes a qualidade de vida, depressão, ansiedade e
conhecimentos sobre a doença.
Este conjunto de
dados tem por finalidade avaliar o grau de interferência do estado emocional e
físico sobre a capacidade física do paciente e permite auxiliar o planejamento
do programa de recondicionamento.
TESTE DE CAMINHADA
O Teste da
Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é um teste de esforço submáximo que se
assemelha às atividades diárias do paciente e permite uma avaliação objetiva da
sua condição física.
Desta forma, a
avaliação da capacidade funcional é necessária para que se prescreva exercícios
para pacientes cardiopatas de forma adequada e também para avaliar a eficácia
da terapêutica utilizada. Isso pode ser conseguido com a aplicação de testes de
esforço não-invasivo, uma vez que este reflete a análise de aspectos metabólicos
do miocárdio e o grau de resposta isquêmica ao esforço a que está sendo
submetido.
O teste da
caminhada de 6 minutos deve ser realizado duas vezes, com pelo menos 30 minutos
de intervalo, para se tomar o valor mais alto, em um corredor plano, com incentivo
a cada minuto, sem acompanhamento do técnico. O teste da caminhada é
considerado um teste sub-máximo.
SHUTTLE
WALKING TEST- SWT
Trata-se de um
teste simples, incremental, com velocidade controlada por sinais sonoros o qual
tem como finalidade avaliar o desempenho do indivíduo levando em consideração
os sintomas limitantes.
O SWT foi criado
como um instrumento de avaliação para indivíduos com doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC), porém, tem sido utilizado também em outras condições de saúde.
Para realização
do SWT utiliza-se uma pista de 10 metros, demarcada por dois cones, com
distância de nove metros entre eles e meio metro além de cada cone para o
retorno o indivíduo é instruído a caminhar de um cone ao outro, de acordo com o
ritmo determinado pelos sinais sonoros, até a fadiga ou presença de sintoma
limitante. Um dos critérios de interrupção do teste é a incapacidade de manter
o ritmo de deslocamento, ou seja, quando o indivíduo não alcança o cone
subsequente, por duas vezes consecutivas, dentro do tempo estabelecido pelos
sinais sonoros
.
Os seguintes
equipamentos são utilizados para aplicação do SWT: cronômetro, cones para
demarcação da pista, aparelho de som e CD contendo a gravação do SWT,
esfigmomanômetro e estetoscópio, cardiofrequencímetro, oxímetro de pulso e
escala de percepção subjetiva de esforço.
ESCALA DE BORG
A percepção
subjetiva de esforço se baseia na escala de Borg, que é formada por uma numeração que vai de 6 a 20. O número 6 equivale a uma freqüência cardíaca
que geralmente fica em torno de 60 bpm,
que é considerado um valor médio de repouso.
O indivíduo utiliza a escala para apontar sua própria
percepção de esforço. A escala não invalida os outros métodos conhecidos sendo
mais um para somar à segurança da prática da atividade física.
QUESTIONÁRIOS DE QUALIDADE DE VIDA
A qualidade de
vida relacionada à saúde refere-se à visão subjetiva do paciente sobre seu
estado de saúde, porém esta medida pode contrastar com avaliações fisiológicas,
como espirometria, ou a interpretação clinica relativa ao bem estar do paciente e sua capacidade funcional.
A qualidade de
vida pode ser avaliada de forma quantitativa e qualitativa. A avaliação
qualitativa consiste em uma entrevista com o paciente a fim de obter informações
sobre o impacto da doença em sua vida. Através deste método pode-se identificar
aspectos únicos e individuais dos benefícios de uma intervenção.
Essa avaliação é feita através de
questionários. A aplicação destes questionários pode estender o campo de
informações e prover uma avaliação mais completa sobre os benefícios da
Reabilitação Pulmonar. Existem dois
tipos de questionários de qualidade de vida, os genéricos e os específicos.
Os genéricos podem ser aplicados a
qualquer doença e permitem que os impactos sobre enfermidades diferentes possam
ser comparados. Talvez o questionário genérico mais utilizado seja o SF-36,
Short Form 36, que inclui 36 perguntas divididas em 8 domínios.
Os questionários
específicos estão relacionados a uma doença específica, como, por exemplo,
questionário do Saint George Hospital, que pode ser utilizado para DPOC, asma
ou bronquiectasia. Há questionários específicos para qualquer doença, incluindo
doenças reumatológicas, câncer ou doença vascular, por exemplo.
TESTE INCREMENTAL MMSS:
Verifica o peso
máximo que o indivíduo consegue levantar com o braço dominante. O treino será
com 50% da carga máxima obtida, realizado com movimentos em diagonais para o
maior número de músculos possíveis
O paciente
realizará um máximo esforço com incremento de carga e é limitado por sintomas.
Neste teste são monitorizadas a frequência cardíaca FC, pressão arterial PA,
frequência respiratória FR, saturação de oxigênio SatO2 e Escala de Borg.
TIPOS
DE TREINAMENTO
As modalidades de treinamento comumente
utilizadas são:
• Treinamento de endurance: Envolve grande massa muscular e os exercícios
são
aplicados em moderada intensidade, por
um período relativamente longo.
• Treinamento intervalado: Envolve a prescrição intervalada de exercícios
com carga alta e baixa.
• Treinamento de força: Consiste na realização de exercício de alta
intensidade e baixo
número de repetições.
TIPOS
DE EXERCÍCIOS FÍSICOS
O exercício
físico proporciona a avaliação funcional do organismo em condições de
sobrecarga metabólica. Portanto, vão ocorrer ajustes metabólicos,
termorregulador, endócrino, celulares, cardiovascular e pulmonar adequados ao
esforço (aumento do O2 e do CO2) que são fundamentais para manutenção do
equilíbrio ácido básico e das pressões parciais de oxigênio e dióxido de
carbono no sangue arterial (PaO2 e PaCO2), a níveis similares ao do repouso.
O paciente deve
ser submetido a um teste cardiorrespiratório de esforço, que irá fornecer ao
terapeuta os dados necessários para a prescrição segura e adequada de
exercícios, visando oferecer ao paciente os benefícios do treinamento aeróbio.
Há muitas maneiras de proceder à avaliação da capacidade física para pacientes
pneumopatas.
Os testes em
bicicleta ergométrica e em esteira rolante permitem maior controle sobre as
variáveis de intensidade e maior precisão para prescrever o exercício, além de
eliminar a preocupação com grandes áreas físicas como as que são necessárias
nos testes de caminhada.
A bicicleta ergométrica é mais barata do
que a esteira, entretanto a última pode ser eleita se levarmos em conta que o
ato de caminhar é mais funcional, proporcionando, possivelmente, melhorias mais
diretas e efetivas sobre a qualidade de vida desses pacientes.
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